Que a ortodontia é uma especialidade em constante evolução todos sabemos e o blog do Orthofree é uma grande ferramenta para permitir que nós, especialistas, tenhamos acesso ao que se passa de mais atual na nossa área. Lógico que encontros e congressos também são ferramentas essenciais para permitir que nós, especialistas, tenhamos uma noção do que se passa de mais atual na nossa área. Quando estes encontros trazem palestrantes de outros lugares do mundo, isso nos permite comparar em que estado está a ortodontia que estudamos em nossos cursos de especialização, julgar a qualidade do que aprendemos e tão logo a ortodontia que praticamos em nosso consultório. Braquetes auto-ligados são a nova “coqueluche” mundial. Mais uma vez a ortodontia encara uma provação e caímos na tentação de colocarmos em prática clínica procedimentos que não são comprovados por evidências. Mas a ciência não fica para trás e nestes últimos meses vemos um “boom” de artigos sobre o assunto. Em março deste ano o Seminars in Orthodontics foi direcionada a este assunto(1). No mês passado o American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics publicou um artigo clínico randomizado mostrando que a eficiência destes quando comparados a braquetes convencionais não apresentam diferenças significativas(2) (diferente do que prega o próprio Damon, conforme demonstrado na postagem de 18 de Agosto de 2007, aqui mesmo neste blog). Neste mês o Orthodontic & Craniofacial Research publicou uma pesquisa comparando as condições periodontais na região dos incisivos inferiores de pacientes que utilizaram braquetes auto-ligados e braquetes convencionais e também não verificaram nenhuma diferença estatisticamente significante(3). O American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics publicou um artigo comparando a quantidade de reabsorção apical externa de pacientes tratados com braquetes auto-ligados e com braquetes convencionais e também não verificaram diferenças entre as duas técnicas(4). O Angle Orthodontist também deste mês apresenta dois artigos relacionados aos braquetes auto-ligados.(5; 6)
É impossível falar de evolução em ortodontia sem falar em ancoragem absoluta.Sobre este assunto é fácil citar referências, pois praticamente quase todos os periódicos da nossa área possuem algum trabalho sobre o assunto.
A última edição da Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial foi inteiramente dedicada ao assunto(7), que por sinal foi a matéria de capa do
Journal of Clinical Orthodontics do mês de setembro(8). O American Journal of Orthodontics deste mês publicou quatro artigos relacionados ao assunto( 9;12), incluindo um artigo especial sobre o histórico da ancoragem absoluta(12).
Novos livros sobre este tópico estão sendo lançados (como podemos ver nas postagens dos dias 04/07; 28/08 e 03/10 neste blog) e um dos mais recentes é “TEMPORARY ANCHORAG
E DEVICES IN ORTHODONTICS”(13) do Professor Nanda, ainda sem tradução para o português.
Um dos principais centros de estudo sobre este tópico é o Departamento de Ortodontia da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, sob a supervisão da Professora Birte Melsen, que é co-autora em um dos capítulos e que já publicava sobre mini-implantes a 10 anos atrás, 14 tendo uma grande experiência sobre o assunto.
Mas, no entanto, hoje em dia é impossível pensarmos em uma ortodontia moderna sem contarmos com o auxílio da informática. Apesar de parecer um salto no futuro, a utilização de modelos digitais está cada vez mais próxima da nossa realidade, principalmente após o surgimento da Widilabs© no Brasil (novosite.widialabs.com - conforme postagem do dia 24/09/08).
A simples idéia de nos vermos livres da pilha de modelos que armazenamos em nossos consultórios já torna o assunto bastante atrativo, mas ao sabermos das facilidades e possibilidades que esta nova ferramenta nos fornece temos certeza que é realmente uma nova tendência na ortodontia, não apenas para as análises que estamos acostumados a realizar em modelos de gesso, mas principalmente para o planejamento de oclusogramas realmente tridimensionais (
T3D Occlusogram – Libra Orthodonzia) e possibilitando ainda sua utilização juntamente com imagens DICOM geradas por tomógrafos, permitindo a sobreposição dos modelos digitais em tomografias.
Tomografia é outro tópico que está cada vez mais presente na ortodontia, principalmente na parte de diagnóstico. A postagem do dia 09/05/08 nos mostra onde podemos chegar com a análise cefalométrica tridimensional. Mas quando falamos em tomografia na odontologia, a utilização de tomógrafos de feixe cônico (CBCT) é obrigatória, e um artigo recente e muito bom sobre este assunto é o “FRONTIERS IN CLINICAL RESEARCH:
The Use of Cone-Beam Computed Tomography in an Orthodontic Department in between Research and Daily Clinic.”15 publicado no World Journal of Orthodontics do mês passado por Paolo Cattaneo e Birte Melsen.
Como podemos perceber, a Professora Melsen está presente no que há de mais atual na ortodontia, e um conceito que ela quer mudar na nossa área é o da movimentação dentária, utilizando a visão da biologia molecular e explicando melhor os fatores realmente relacionados com a remodelação óssea. Esse assunto foi muito bem demonstrado no artigo
“The Importance of Force Levels in Relation to Tooth Movement”(16) publicado no
Seminars in Orthodontics em dezembro de 2007.
Porém as novas tendências na ortodontia também abordam tratamentos racionais dos pacientes, já que estes são os principais motivos de nossa constante busca por atualizações.
A “Cirurgia Ortognática de Benefício Antecipado” é um dos grandes exemplos de uma forma de tratamento onde o benefício do paciente vem em primeiro lugar. Neste protocolo de tratamento preconizado pelo professor Jorge Faber, opera-se o paciente antes mesmo de iniciar o tratamento ortodôntico propriamente dito, evitando que este precise passar por um período de descompensação antes de ser submetido à cirurgia ortognática e acredita-se que a resposta da movimentação dentária ortodôntica seja mais rápida após a cirurgia, diminuindo-se assim o tempo total do tratamento.
Claro que não podemos falar de um bom tratamento ortodôntico sem falarmos de um planejamento racional dos dentes a serem movimentados, principalmente quando falamos do tratamen
to ortodôntico do paciente adulto.
O sistema de força desejado, como aplicá-lo, sua ação e principalmente sua reação são critérios fundamentais para um planejamento biomecânico onde se pode prever o que irá acontecer na movimentação dentária evitando-se assim efeitos indesejáveis.
Sobre estes importantes tópicos citados acima, cabe comentarmos sobre o Encontro Internacional de Ortodontia em Goiânia
Goiânia sediará no final deste mês um encontro sobre as novas tendências na Ortodontia tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Serão 3 dias abordando temas como braquetes auto-ligáveis, aplicação racional da biomecânica no tratamento do adulto, cirurgia ortognática de benefício antecipado, ancoragem absoluta, tomografia na ortodontia e modelos digitais ministradas pelos professores: Marcos Lenza, Maurício Sakima, Jorge Faber, Carlalberta Verna, Paolo Cattaneo, Michel Dalstra respectivamente, sendo que estes 3 últimos pertencem ao departamento de ortodontia da Universidade de Aarhus, Dinamarca, onde são parte integrante do núcleo de pesquisa da professora Birte Melsen.
Maiores informações: Liguem no telefone (62) 30951022 ou vejam o folder no site
www.encontroortodontia.com.br
O encontro será nos dias 27 à 29 de novembro de 2008.
* Research Fellow
Department of Orthodontics
School of Dentistry
Faculty of Health Sciences
University of Aarhus – Denmark
e-mail: mauriciolenza@yahoo.com
milenalenza@yahoo.com.br
1 - Self-Ligating Orthodontic Brackets. Seminars in Orthodontics. March 2008 No. 1, p1-100.
2 - Scott P, DiBiase AT, Sherriff M, Cobourne MT. Alignment efficiency of Damon3 self-ligating and conventional orthodontic bracket systems: a randomized clinical trial. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2008 Oct;134(4):470.e1-8.
3 - Pandis N, Vlachopoulos K, Polychronopoulou A, Madianos P, Eliades T. Periodontal condition of the mandibular anterior dentition in patients with conventional and self-ligating brackets. Orthod Craniofac Res. 2008 Nov;11(4):211-5.
4 - Pandis N, Nasika M, Polychronopoulou A, Eliades T. External apical root resorption in patients treated with conventional and self-ligating brackets. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2008 Nov;134(5):646-651
5 - Elekdag-Turk S, Cakmak F, Isci D, Turk T. 12-month self-ligating bracket failure rate with a self-etching primer. Angle Orthod. 2008 Nov;78(6):1095-100.
6 - Pandis N, Eliades T, Partowi S, Bourauel C. Moments Generated during Simulated Rotational Correction with Self-Ligating and Conventional Brackets. Angle Orthod. 2008 Nov;78(6):1030-4.
7 - Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial v.13 n.5 Set./out. 2008
8 - Journal of Clinical Orthodontics. v.42 n.9 Sep 2008
9 - Papadopoulos MA. Orthodontic treatment of Class II malocclusion with miniscrew implants (online extra) Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2008 Nov;134(5): 604.e1-604.e16
10 - Yao CCJ, Lai EHH, Chang JZC, Chen I, Chen YJ. Comparison of treatment outcomes between skeletal anchorage and extraoral anchorage in adults with maxillary dentoalveolar protrusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2008 Nov;134(5): 615-624
11 - Brettin BT, Grosland NM, Qian F, Southard KA, Stuntz TD, Morgan TA, Marshall SD, Southard TE. Bicortical vs monocortical orthodontic skeletal anchorage. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2008 Nov;134(5): 625-635
12 - Wahl N. Orthodontics in 3 millennia. Chapter 15: Skeletal anchorage. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2008 Nov;134(5): 707-710
13 - Nanda R. TEMPORARY ANCHORAGE DEVICES IN ORTHODONTICS. 2008 p. 448.
14 - Costa A, Raffainl M, Melsen B. Miniscrews as orthodontic anchorage: a preliminary report. Int J Adult Orthodon Orthognath Surg. 1998;13(3):201-9.
15 - Cattaneo PM, Melsen B. The use of cone-beam computed tomography in an orthodontic department in between research and daily clinic. World J Orthod. 2008 Fall;9(3):269-82.
16 - Melsen B, Cattaneo PM, Dalstra M, Kraft DC. The Importance of Force Levels in Relation to Tooth Movement Seminars in Orthodontics Volume 13, Issue 4, December 2007 220-23